A Shell, maior multinacional de energia em operação no Brasil, desembarcou no Rio Grande do Norte esta semana em busca de soluções de P&DI – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – em uma das frentes de expansão em que está de olho no país: a eólica offshore (no mar).
“O objetivo é conhecer a experiência do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) em contribuição para o desenvolvimento tecnológico da área, agora que estamos publicamente posicionados também como empresa de geração de energias renováveis e não apenas de óleo e gás”, disse a gerente de Programa de Tecnologia para Soluções de Energia e Descarbonização da companhia, Camila Brandão, fazendo referência ao lançamento da Shell Energy Brasil, em setembro deste ano.
Em comunicado público sobre o lançamento, a empresa informou à época que a nova marca vai produzir e comercializar energia elétrica limpa por usinas solares e eólicas, e energia de baixo carbono por térmicas a partir do gás, além de oferecer produtos ambientais como Certificados de Energia Renovável e compensações de carbono.
É um passo, segundo a Shell, dentro do que chama de “ambiciosa meta de zerar as emissões líquidas da empresa até 2050” e que já inclui, por exemplo, investimentos anunciados em geração de energia solar.
“A empresa está fazendo uma migração gradual do seu portfólio, que não significa que vai eliminar a produção de óleo e gás, mas que pretende expandir a geração de energia elétrica no país e isso inclui a energia renovável em uma grande extensão. A meta é abater todas as emissões (de gases do efeito estufa) da empresa até 2050, desde as oriundas da própria operação até aquelas do consumo dos seus produtos pelos clientes”, disse Camila.
As declarações foram dadas após visita aos laboratórios do ISI-ER e conversa com a equipe de P&D em energia eólica do Instituto, em um tour técnico em que esteve acompanhada do gerente geral de Tecnologia da Shell no Brasil, Olivier Wambersie, e da gerente de Programa de Tecnologia Subsea and Topsides da companhia, Rosane Zagatti.
P&D
Com caneta e papel em mãos, os executivos mergulharam durante uma manhã inteira em dados levantados pelo Instituto e em mapas que mostram o potencial já conhecido do setor eólico no Rio Grande do Norte, o maior produtor desse tipo de energia em terra no país e o que mais tem investimentos previstos. As respostas que a equipe tem e busca sobre a possível geração do país no mar também entraram em destaque na pauta do encontro.
O ISI-ER, referência da rede de Institutos SENAI de Inovação no Brasil em energia eólica, solar e sustentabilidade, foi a primeira instituição no país a medir em campo o potencial de geração eólica offshore, a energia com parques eólicos instalados no mar.
O setor é objeto de estudos dos pesquisadores do SENAI-RN há mais de 10 anos e, para investidores dessa indústria, começa a despontar com força como possibilidade de negócio. Para se ter ideia, só até agosto, 23 projetos estavam com processos de licenciamento ambiental abertos no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), distribuídos em sete estados, principalmente na região.
Nordeste. Eles somam uma potência total de 46,63 Gigawatts (GW) – mais que o dobro da capacidade total instalada atualmente em parques eólicos em terra no país, que segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), chega a 19,1 GW.
A Shell ainda não está nessa lista de investidores, mas os planos estão em desenvolvimento de olho especialmente no offshore. A companhia não revela ainda quais seriam as regiões preferenciais para possíveis investimentos. O momento, segundo Camila, é de “coleta de informação” e de acompanhamento das movimentações no mercado.
“Ainda não existe legislação do offshore, um regulamento bem definido, e assim como outras empresas, estamos acompanhando para ver como isso pode potencialmente se transformar em oportunidade para a gente. Isso inclui a questão da mudança de portfólio da empresa, ampliando o portfólio de geração de energia, e a área de pesquisa e tecnologia precisa acompanhar. Isso justifica a nossa presença aqui hoje. Sabendo que o ISI tem uma atuação forte na área é natural que a gente venha conhecer o trabalho e que confronte o resultado dessa consulta com os nossos objetivos estratégicos”, observa a executiva.
Expansão
As reuniões com o SENAI-RN envolveram o diretor do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, Rodrigo Mello, o coordenador de P&D do Instituto, Antonio Medeiros, e os pesquisadores Luciano Bezerra e Leonardo Oliveira. Os executivos da Shell tiveram um encontro ainda com o presidente do Sistema FIERN e do Conselho Regional do SENAI-RN, Amaro Sales de Araújo, e com o diretor regional do SENAI-RN, Emerson Batista, na Casa da Indústria. Na ocasião, o gerente geral de Tecnologia no Brasil, Olivier Wambersie, ressaltou que “a transformação energética está no centro da expansão da empresa no país e que a mudança ocorre de forma progressiva, mas sem volta”.
Dentro do portfólio de P&D da Shell no Brasil, 30% dos investimentos do grupo devem ir para projetos ligados à transformação energética – “um mundo”, disse ele, “um pouco novo para a Shell, mas em que a empresa deve investir e aprender”. “Essa é uma virada sem volta, ou seja, não é ir, testar e nos retirar. A Shell está no Brasil há mais de 100 anos, é o que podemos chamar de longo prazo, e minha ideia como responsável pela tecnologia aqui é iniciar relacionamentos de longa duração nessa área”.
Wambersie ressaltou ainda que a companhia precisa desenvolver infraestrutura, inovar, aprender e desenvolver no setor de energias renováveis – e que quer entregar tecnologia aplicada na área. “Recebemos informações no Rio Grande do Norte, em uma visita muito rica, e vemos potencial para pensar, discutir e desenvolver no futuro”.
Para Amaro Sales, presidente do Sistema FIERN, o Rio Grande do Norte, que já era visto como grande produtor de energias renováveis, também desponta para o setor como importante pólo de conhecimento para investimentos. “A chegada dessas grandes companhias aqui é sinal de que sabem que aqui tem vento, sol e também o nosso ISI, que pode dar uma grande contribuição na pesquisa, na inovação e no desenvolvimento de novos produtos em prol da competitividade e da sustentabilidade da indústria e do país”, ressaltou ele e foi além: “No momento em que o mundo fala em falta de energia e em sustentabilidade, o RN e o SENAI saem na frente oferecendo esses elementos”.
SOBRE A REDE DE INSTITUTOS SENAI DE INOVAÇÃO
O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) está inserido na maior rede privada de institutos de pesquisa, desenvolvimento e inovação criada no Brasil para atender as demandas da indústria nacional, composta por 26 Institutos SENAI de Inovação. A Rede de Institutos SENAI de Inovação tem como foco de atuação a pesquisa aplicada, o emprego do conhecimento de forma prática, no desenvolvimento de novos produtos e soluções customizadas para as empresas ou de ideias que geram oportunidades de negócios. Desde a criação da rede, em 2013, mais de R$ 1,2 bilhão foram mobilizados em 1.332 projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). A estrutura conta com mais de 930 pesquisadores, dos quais cerca de 52% possuem mestrado ou doutorado.
SOBRE A SHELL
Fundada em Londres, em 1897, como uma pequena empresa comercial, em 1903, se uniu a Royal Dutch Petroleum para se tornar uma das maiores empresas de energia do mundo. Tem atuação em 70 países e territórios. No Brasil, está presente desde 1913. Exploração & Produção, varejo de lubrificantes, Marine, Trading, Pesquisa & Desenvolvimento e o mercado livre de energia são focos da atuação da Shell Brasil. Em Águas Profundas, sua produção diária é de aproximadamente 350 mil barris de óleo equivalente, sendo a maior multinacional de energia do país. A divisão da companhia com foco em transição energética e descarbonização, a Shell Energy Brasil, foi lançada em setembro deste ano com o objetivo de produzir e comercializar energia elétrica limpa por usinas solares e eólicas, e energia de baixo carbono por térmicas a partir do gás, além de oferecer produtos ambientais como Certificados de Energia Renovável e compensações de carbono.