Um possível surto infeccioso pode ter causado a morte de 12 bebês prematuros, que estavam em tratamento na UTI neonatal do Hospital Santa Catarina, maternidade referência para alto risco.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap), os óbitos foram registrados em menos de um mês, no intervalo de 18 de setembro a 16 de outubro.
Ainda segundo a pasta, as mortes estão sob investigação de uma equipe montada especificamente para esta finalidade, com profissionais dos setores de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), Vigilância Sanitária Estadual e Municipal, Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), Comissão Estadual de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH), Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e Coordenação de Atenção à Saúde (CAS).
Thainara Thamires, de 24 anos, foi uma das mães que perdeu o filho na unidade. Ela conta que teve uma gestação tranquila, com acompanhamento médico pré-natal ao longo da gravidez de sete meses.
Lorenzo, filho de Thainara, nasceu em 21 de agosto e faleceu em 23 de setembro. A direção do hospital aponta que trabalha para identificar sintomas em comum nas vítimas para tentar estabelecer vínculos que possam esclarecer o “provável surto”. Parte das vítimas tiveram melena (sangue nas fezes) e distensões abdominais.
A certidão de óbito de Lorenzo Pietro da Silva aponta “choque séptico, sepse tardia, enterocolite necrosante e prematuridade extrema” como causa da morte. As mesmas anomalias foram descritas no laudo de Maytê Yanaê Vieira da Silva, filha de Marcella Elizabeth, de 24 anos. Ela também perdeu a filha durante o possível surto de contaminação no hospital. A exemplo do que aconteceu com o filho de Thainara, Marcela deu à luz prematuramente com 24 semanas, prestes a completar seis meses de gestação.
Mães de primeira viagem e ambas com 24 anos, Marcella e Thainara acabaram se aproximando devido ao evento traumático. Juntas, elas mantêm contato com outras mães que também perderam bebês nas mesmas condições, como forma de estabelecer uma rede de apoio.
Investigação de casos deve ser concluída hoje
De acordo com a Sesap, os prontuários analisados referentes aos 12 óbitos não apresentaram sintomatologia comum a todos os recém-nascidos. Durante a semana passada, todos os 24 leitos de UTI neonatal da unidade foram bloqueados para um processo de desinfecção. Hoje, com os leitos já liberados, 18 bebês seguem internados, sendo seis deles isolados aguardando resultado de exames, mas todos sem risco de morte, segundo a diretora-geral do Santa Catarina, Aline Bezerra. A expectativa é de que o relatório com as causas das mortes seja finalizado nesta terça-feira (26).
Dados fornecidos pela Sesap mostram que neste ano a média mensal de mortes de bebês na unidade é de 8,8. Em setembro passado foram registradas 8 mortes, enquanto que neste mês ocorreram 11 óbitos. Ao todo, 88 bebês prematuros morreram em 2021 ante 64 óbitos contabilizados no mesmo período (janeiro a outubro) no ano passado.
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) informou ainda que segue “trabalhando para concluir a investigação” e aguarda a conclusão dos exames conduzidos pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).
*Tribuna do Norte