Indústria de confecções do RN vive expectativa de ampliar número de empregos com a chegada da Shein

Há quase um mês, o Brasil ficou sabendo que a gigante internacional do varejo da moda, a chinesa Shein, iria ter uma casa no país ao se instalar no Rio Grande do Norte. Essa novidade na indústria de confecções tem potencial de alavancar o crescimento do setor, com uma expectativa de dobrar a quantidade de postos de trabalho.

A produção das peças de roupa ficará por conta da Coteminas, uma das maiores do setor no Brasil, que já atua no Rio Grande do Norte, e que será uma espécie de âncora para a Shein. Para garantir que a demanda será atendida, parcerias serão firmadas com oficinas de costura espalhadas em dezenas cidades do estado.

O empresário Luiz Lupércio, dono da Tropicalliz Confecções, localizada na cidade de Bodó, a 206 quilômetros de Natal, está aguardando a concretização do projeto para colocar seu empreendimento na rota multinacional da Shein.

“Já tentei contato com a Coteminas – empresa âncora – mas não nos adiantaram muita coisa, disseram que tudo ainda está na fase de estudos, mas nós estamos aguardando com ansiedade e esperança de que isso venha a potencializar a atividade que já existe no estado, gerando ainda mais oportunidade”, diz Lupércio.

Só das oficinas de costura espalhadas no interior do RN, aproximadamente 4 mil pessoas estão empregadas hoje. São 124 unidades, um crescimento de 133% em relação ao ano de 2019, quando existiam 53. A meta é chegar a 200 oficinas para poder atender a demanda iminente de peças para a Shein.

“Só das oficinas de costura no interior, nós temos cerca de 4 mil empregos, e como nós temos 124 unidade de costura, e a gente quer ter 200 contratos com a Shein, a gente espera mais que dobrar essa quantidade de empregos”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, Jaime Calado.

Até o último dia 7 de julho, pelo menos três contratos já estavam sendo fechados para que a produção de peças de vestuário fosse iniciada. A confecção potiguar terá papel importante na descentralização da produção da empresa asiática, que até agora só era abastecida por peças fabricadas em apenas um lugar.

“A Shein, que vende em 200 países, só era abastecida na China, e eles decidiram produzir no Brasil para vender na América Latina. Do México ao Chile, esses produtos brasileiros serão vendidos”, explica Jaime Calado.

José Medeiros de Araújo, dono da Zaja Confecções, empresa localizada no município de Cerro Corá, a aproximadamente 195 quilômetros de Natal, fala com entusiasmo do setor, que espera ter um crescimento destacado.

“Eu enxergo espaço para um grande crescimento nos próximos anos. A gente está prospectando no mercado. Existem negociações em andamento com algumas empresas. Não vejo como esse processo regredir. Não estamos no nosso melhor momento, mas isso é o que faz com que a gente saia da nossa zona de conforto e faça o projeto andar”, comemora .José Medeiros.

Novos contratos da Shein

A ideia da Shein é firmar cerca de 2 mil contratos no Brasil para dar vazão às vendas em toda a América Latina. O Rio Grande do Norte quer uma fatia de pelo menos 10% dessas parcerias sendo firmadas com empresas potiguares. “Eles – administradores da Shein – querem 2 mil contratos no Brasil e a gente está lutando desde o começo para ficar pelo menos com 200. Os três primeiros já estão sendo assinados”, comenta Calado.

Para melhorar ainda mais a mão de obra, o Governo do Estado, em parceria com Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), está oferecendo um treinamento de qualificação para 2 mil costureiros e costureiras em várias cidades.

As primeiras instruções foram realizadas ainda no ano passado, em Santo Antônio, Touros e Ceará-Mirim, onde 50 profissionais de cada cidade receberam o treinamento. Neste momento, outros sete municípios estão recebendo o programa, também com 50 costureiros em cada, o que já chega, somados aos cursos ministrados no ano passado, a 500 profissionais qualificados para a indústria de confecção. “Esse programa vai chegar para as dez regiões econômicas do estado. São 40 municípios, cada um com 50 costureiras e costureiros, que são capacitados não só para tecido plano, mas para jeans, tactel e malha”, diz Jaime Calado.

O crescimento do setor de confecções potiguar

A indústria de confecção tem bom desempenho no Rio Grande do Norte há muitos anos. Muito desse resultado se deve à Guararapes, empresa âncora que produz as peças comercializadas pela Riachuelo, e que mantém, atualmente, cerca de 7 mil empregos diretos. No entanto, a partir de 2013, o estado deu início a um projeto que mudou a história do setor, interiorizando a mão de obra e expandindo a indústria para várias cidades do estado.

“O programa chamado de Pró-Sertão, de interiorização da atividade de produção de vestuário, que começou apenas com quatro unidades, e hoje passa de 100 indústrias que trabalham com terceirização de produção para grandes marcas, é o grande mote desse crescimento”, explica o diretor regional do Senai-RN, Rodrigo Mello.

O Pró-Sertão é fruto de uma parceria entre o Senai, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (Fiern), e o Governo do Estado. Ele é responsável pelo crescimento do setor. Quando iniciado, em 2013, as quatro primeiras unidades se concentravam em três municípios (Acari, São José do Seridó e Cerro Corá), envolvendo dez pessoas, e hoje está levando emprego e renda para cerca de 4 mil trabalhadores em 34 cidades.

Com cerca de 40 profissionais, a Tropicalliz Confecções, em Bodó, é uma das oficinas de costura que conta com o apoio dos serviços ofertados pelo programa. Luiz Lupércio conta como sua empresa é beneficiada: “Nós recebemos grande ajuda na melhoria de processos e qualificação profissional através do Sistema S, com o Senai e Sebrae. Eles contribuem com a melhoria profissional ofertando conhecimento para a mão de obra, bem como nos ajudam em consultorias ajudando a tornar as empresas viáveis”, Luiz Lupércio, dono da Tropicalliz Confecções.

Outra empresa da indústria de confecções potiguar com uma ajuda do programa para a qualificação dos seus profissionais é a Zaja Confecções, de Cerro Corá, que mantém parceria com o Senai desde antes do início do Pró-Sertão.

“A minha empresa tem parceria com o Senai há 16 anos. Durante todo esse tempo a gente se qualifica com o Senai e o Sebrae. A qualificação em nossa empresa é em vários níveis. Desde a formação de costureiros, de gerentes, formação de mecânicos, gerentes de RH, modelistas… a parceria da gente com o Sebrae e Senai é de longa data e é continuada. A gente qualifica o tempo todo em parceria com eles”, conta José Medeiros de Araújo, dono da Zaja Confecções.

“Em nossa história existe o antes e o depois do Pró-Sertão, e nas duas fases tivemos a ajuda do Senai e Sebrae. O depois se tornou melhor para o setor porque passamos a ter mais sustentabilidade, mais perspectiva de futuro. Nós entramos para um momento de muito mais formalidade. O projeto consolidou a gente no mercado têxtil brasileiro”, diz José Medeiros de Araújo, que completa destacando que em sua empresa existem atualmente 130 trabalhadores, dos quais, mais de 120 já passaram por treinamentos e qualificações do Senai e Sebrae. “Essa parceria é muito sólida e contribui bastante para a sustentabilidade do negócio”, diz.

Somando todos os números de emprego, que é de 7 mil na Guararapes, e de 4 mil nas oficinas espalhadas pelo estado, e se adicionarmos a previsão do Estado de dobrar esses últimos, o Rio Grande do Norte deve atingir, em breve, a marca de 15 mil trabalhadores na indústria de confecção.

Mais oportunidades de qualificação

Rodrigo Mello fala com orgulho do programa e seus resultados, lembrando o quanto ele tem contribuído para a economia local. “Tem uma sutileza que demonstra o resultado positivo para o nosso estado e para as pessoas que vivem aqui: têm municípios no Seridó que tem zero desemprego. O município de São José do Seridó é um exemplo que a gente sempre usa. O município de Santana do Seridó, que é muito pequeno, tem ainda menos de três mil habitantes, mas teve um crescimento percentual em sua população muito grande, de pessoas que foram morar lá por conta da ocupação e desenvolvimento da atividade das oficinas de costura”, diz Mello.

O diretor regional do Senai-RN adiantou que há uma negociação com o Governo do Estado para que eles possam oferecer mais uma oportunidade de qualificação aos profissionais já existentes no RN.

“Existe uma negociação e a gente está na fase final. A ideia é oferecer cursos de aperfeiçoamento para a expansão de novas tecnologias e novos produtos, além de novos tecidos a serem trabalhados, já vislumbrando a chegada dessa nova âncora – Shein – aqui no estado. Isso está bem maduro e eu acredito que dentro bem breve, no começo agora desse segundo semestre a gente está realizando o fechamento dessa parceria”, explica Rodrigo Mello, diretor regional do Senai-RN.

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