Passado pouco mais de um ano após envio das primeiras toneladas de melão à China, missão comercial de produtores potiguares ao país asiático buscará ampliar as exportações. O encontro ocorrerá em março do próximo ano e foi definido entre representantes do Sebrae no Rio Grande do Norte, Governo do Estado e Comitê Executivo de Fruticultura (COEX) junto ao Consulado chinês, durante o Fórum da Fruticultura, um dos eventos da Expofruit, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), que encerrou nesta sexta-fera (26) em Mossoró.
Em participação virtual na palestra “Estratégias comerciais para a fruticultura”, a Cônsul Geral da China, Yan Yuqing, destacou a qualidade do melão potiguar e ressaltou a importância da cooperação comercial bilateral. Também participou do painel o adido comercial chinês Shao Weitong.
“Os deliciosos melões produzidos em Mossoró entraram com sucesso no mercado chinês, o que permitiu aos chineses apreciarem a doçura brasileira. O Brasil possui condições naturais superiores para uma grande produção, muitas variedades e alta qualidade das frutas, tornando-se o terceiro maior produtor de frutas no mundo. Sendo o mercado consumidor de frutas com maior potencial, a China tem crescente demanda por frutas e vegetais de alta qualidade do exterior. Portanto, é extremamente complementar a cooperação entre a China e o Brasil na área de comércio das frutas”, enfatizou Yuqing.
A missão comercial que viajará à China promoverá a aproximação, na mesa de negociações, entre produtores de melão do Rio Grande do Norte e grandes compradores chineses da fruta, com objetivo de ampliar a atuação no mercado da China, que consome cerca de 17 milhões de toneladas da fruta ao ano. Dois anos após a abertura do mercado asiático para a fruta brasileira, foram enviadas apenas amostras para testar logística e aceitação do produto.
“Conseguimos alcançar, após dez anos de luta, aquilo que parecia mais difícil, que foi a abertura do mercado chinês para o melão potiguar. Agora, precisamos buscar alternativas para conquistar o mercado chinês. A missão será decisiva nesse sentido, pois vai colocar, frente a frente, quem produz e quem compra, numa relação de ganha-ganha”, avalia o diretor Técnico do Sebrae-RN, João Hélio Cavalcanti Júnior.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca do RN, Guilherme Saldanha, idealizador da missão comercial, lembrou da aptidão dos produtores em atender o mercado chinês e elencou fatores que farão a diferença para maior alcance do melão potiguar.
“Os produtores potiguares possuem elevada capacidade produtiva, capazes de abastecer o mercado chinês, porque produzem no período de entressafra na China, e têm um produto diferenciado, com elevada qualidade e elevado conceito fitossanitário. Isso fará toda a diferença na hora de negociar com compradores chineses”, destaca.
Gargalo
Para o produtor e representante da Associação Brasileira de Produtores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, a capacidade em atender ao país asiático é indiscutível. Segundo Barcelos, a quantidade enviada à China pode ser equivalente aos 800 conteiners exportados à Europa semanalmente. Para isto, no entanto, precisa ser sanado aquele que é apontado como o principal entrave no processo: a logística.
“Hoje mesmo recebi a notícia de que não tem logística daqui para lá. A fruta teve que ir para Santos e de lá viajar até a China. E a previsão de chegada passou de 50 para 60 dias. Se tivesse um navio saindo daqui direto para a China, em torno de 28 dias a gente estaria chegando lá. Tendo esse problema resolvido, poderemos avançar para termos uma relação comercial com alguém na China que permita mandar um navio inteiro de fruta. Esse é um grande desafio”, pontua.
Para se ter uma ideia da dificuldade de logística envolvendo o envio de melões à China, os containers enviados para a Europa levam, em média, dez dias para chegar ao destino. “Nosso maior desafio é viabilizar rotas marítimas diretas entre o RN e a China, de modo que a viagem possa ser feita em 30 dias, aproximadamente. Isso será determinante para que eles possam comprar volumes cada vez maiores”, observa Guilherme Saldanha.
Também participaram das discussões o presidente do Coex, Fábio Queiroga e o superintendente do Ministério da Agricultura e Pesca no RN, Roberto Papa. O Fórum da Fruticultura integrou a programação científica da 24ª edição da Feira Internacional da Fruticultura Tropical Irrigada (Expofruit), realizada pelo Sebrae-RN, Coex e Ufersa, nsta semana, em Mossoró.
O Rio Grande do Norte é o maior produtor de melão do país, com uma média de 200 mil toneladas por ano, que corresponde a cerca de 60% da produção nacional. Em 2019, o Brasil exportou mais de 251 mil toneladas de melão para diversos países. A expectativa, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca (Mapa), é que esse número dobre caso conquiste, no mínimo, 1% do mercado chinês. A safra no Brasil coincide com a entressafra na China. O Rio Grande do Norte é o principal exportador.