Estudantes do IFRN lançam livro com cartas para Anne Frank

Em um retorno às tragédias vivenciadas durante o holocausto que marcou a Segunda Guerra Mundial, estudantes do Campus Canguaretama do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), no  Litoral Sul do estado, se debubraçram por quatro meses na leitura da obra ‘O Diário de Anne Frank’. Os aprendizados dos alunos foram compilados, por meio de cartas, no livro “77 anos desde ‘O diário de Anne Frank’: cartas  de Canguaretama ao mundo”. 

O professor Albéris Eron, coordenador da obra, explica que durante os meses de abril a julho de 2021, reservou  parte das aulas de inglês para a leitura do Diário de Anne Frank. “Os  estudantes tiveram a oportunidade de imergir em um dos momentos mais  sombrios de nossa história, para que ninguém esqueça daqueles dias de terror  e para que não se repitam”, disse. 

Após lerem os escritos da jovem judia, os estudantes, entre 15 e 18 anos,  escreveram suas próprias cartas, refletindo sobre a história da escritora, vítima  do Holocausto, e sobre suas próprias experiencias de vida.  Segundo o docente, no entanto, a ideia de  produzir um livro surgiu ainda  durante as leituras do Diário de Anne Frank em sala de aula. 

“Escrever  um livro contendo cartas foi uma decisão que surgiu durante o processo de  leitura, a partir do interesse dos alunos e do impacto oferecido pelo próprio  depoimento de Anne Frank. Como sabemos, cartas sempre foram canais de comunicação que se completam com absoluta transparência e veiculam textos  de reflexões inteiramente subjetivas”, esclarece.

Um dos autores das 58 cartas que compõem a obra potiguar é o estudante  Eliel Ewerton, de 18 anos, que classifica a experiência como “conflitante”. “Eu  já conhecia a história só de ouvir, e por mais que se tratasse do período da  Segunda Guerra, eu ainda tinha uma visão mais “fantasiosa” do que seria o  Diário de Anne Frank. Mas, quando começamos a entrar de verdade nos textos  para produzirmos cartas, caiu a ficha de que é, na verdade, um relato sobre  uma garota que viveu o pior da humanidade, e que teve sua vida tirada aos 15 anos por nada. E foi real”.

“O genocídio da Segunda Guerra é uma verdade dolorosa, mas é uma  verdade”. A frase é de Ayron Mateus, de 19 anos, também autor de uma das  cartas. Ele conta que o isolamento dos judeus, do racionamento de recursos,  as relações familiares e o modo a vida em meio à guerra, o levaram a refletir profundamente sobre as dificuldades da perseguição nazista. 

“Lancei o meu  olhar para as minúcias, o cotidiano, dificuldades e sofrimentos vividos no 

período. Acredito que uma das belezas do livro é unir as mais diversas visões  sobre algo em comum: a vivência de uma jovem, assim como nós, que por uma  triste perseguição, teve de se isolar do mundo e de sua própria juventude”,  complementou.

Entenda o que foi o extermínio contra os  judeus

Como explica o professor de História do IFRN, Bruno Balbino, o Holocausto foi  uma ação de extermínio sistêmica executada pelo Estado Nazista contra todos  os grupos sociais que, segundo a ótica nazista, representavam uma afrontava  à perfeição nacional/racional ariana, como judeus, homossexuais, ciganos,  poloneses, testemunhas de Jeová, adventistas, deficientes, entre outros.

“A perseguição à comunidade judaica foi feita por etapas. Nos primeiros anos  da ascensão nazista houve a criação de leis antissemitas, boicotes econômicos  e ondas de violência contra os judeus, os chamados ‘pogroms’. Numa etapa  posterior, muitos judeus foram deportados para outros países”, disse.

O professor destaca que o ponto mais dramático da ação nazista ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando as autoridades nazistas levaram,  forçadamente, milhares de pessoas para os campos de concentração – usados  para matá-los por meio do trabalho forçado.

“É importante salientar que, para a comunidade judaica, o uso do termo  ‘holocausto’ é inapropriado para definir a experiência genocida empreendida  pelo Estado Nazista, uma vez que o referido conceito faz referência ao ato  sacrificial que caracterizou, historicamente, a tradição religiosa do povo hebreu  da antiguidade. Em vez de ‘holocausto’, o extermínio judeu nos campos de  concentração é denominado de Shoah, palavra hebraica que significa  destruição, ruína, catástrofe”.

Segundo o historiador, no dia 31 de julho de 1941, o líder nazista Hermann  Goering autorizou ao General das SS, Reinhard Heydrich, o início das  preparações necessárias para a implementação da intitulada “solução final  para a questão judaica”. A ação resultou na morte de milhares de judeus – Só  em Auschwitz, a estimativa é de 1.1 milhão -, por asfixia, fuzilamento, fome,  maus-tratos, espancamento, frio, doenças e experiências médicas.

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