Tendo uma cadeia produtiva instalada e reconhecida nacionalmente com técnicas pioneiras e inovadoras, o Rio Grande do Norte é o terceiro maior exportador de atum do Brasil, segundo dados do Observatório da Industria Mais RN, da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern). Entre janeiro e junho de 2024, o Estado exportou 456,651 toneladas de atum, gerando receita na ordem de US$ 4,615 milhões, cerca de 25% do total exportado no Brasil. De 2019 a 2024 (1º semestre), foram exportados 7,7 mil toneladas de atum, o equivalente a quase US$ 70 milhões, cerca de R$ 395 milhões na cotação atual. A atividade é uma das mais pujantes economicamente do Estado e busca novas tecnologias para alcançar números ainda maiores.
Segundo dados do Observatório da Indústria Mais RN, de um total de US$ 18,5 milhões no primeiro semestre deste ano, o RN foi responsável por US$ 4,6 milhões, com Ceará em 1º lugar com US$ 7,5 milhões e Santa Catarina em 2º com US$ 5,5 milhões. Para se ter ideia, no primeiro trimestre de 2024, o RN alcançou US$ 2,8 milhões em negócios com atum tendo exportado 288,356 toneladas, ou seja, menos da metade do pescado enviado pelo Ceará e um terço do que Santa Catarina exportou, reforçando a qualidade do atum do RN. Esses dois estados exportaram, respectivamente, 663,719 toneladas (US$ 2,956 milhões) e 966,303 toneladas (US$ 4.109 milhões).
Para interlocutores do setor de pesca do Estado, empresários, pesquisadores e especialistas no tema, o RN se destaca por ser o principal produtor de atum para sushis e sashimis no Brasil, isto é, peixes que são vendidos para o mercado para serem consumidos crus. “Esses atuns nobres são direcionados para este mercado de sushi e sashimi para serem consumidos por este mercado, que é seletivo. É um mercado que se come por arte. Nesse pescado, o RN é o 1º, 2º e 3º colocado. O valor agregado dele é muito alto”, explica Gabriel Calzavara, presidente do Sindicato da Indústria da Pesca no Rio Grande do Norte (Sindipesca-RN).
Outros fatores também elevam o patamar do RN no tocante ao atum, como a qualidade do pescado e o tratamento dado ao peixe ainda na embarcação e o fato de praticamente toda a frota potiguar ser licenciada e regularizada junto à Marinha do Brasil. Atualmente, pelo menos 16 outros estados do Brasil exportam atum. Há ainda, no Estado, a pesca por cardume associado, de atuns mais jovens e mais “leves”, com foco na indústria da lata, com presença maciça de pescadores na região de Areia Branca.
Segundo o empresário e diretor da empresa potiguar Norte Pesca, Rodrigo Hazim, os estados de Ceará e Santa Catarina lideram as posições em exportações no Brasil em virtude dos tipos de atum pescados por esses estados, em especial voltados para a indústria de enlatados e em grande quantidade. No entanto, quando se observa atuns selecionados, nobres e voltados para a indústria de sushi e sashimi, o RN lidera as exportações.
“Em Santa Catarina há a produção do Atum Bonito Listrado, que é um atum de baixa qualidade para sushis, mas é utilizado na indústria da lata, muito forte lá. O Ceará por sua vez é a mesma situação: eles são os maiores exportadores no atum congelado, que é o de linha e que vai para indústrias de lata para fora do Brasil”, cita Rodrigo Hazim.
Ele ressalta ainda que o RN é o maior em atum fresco e nobre destinado a sushi. “Somos os primeiros disparados. Tínhamos 95% do atum resfriado até dezembro de 2022. Se você colocar atum como uma coisa só, estamos em 3º. Mas se você segmentar pelos tipos e a destinação, somos os maiores em atum de alta qualidade para ser comido como sushi”, afirma.
Estados Unidos importam 99% do pescado
No mercado externo, os Estados Unidos lideram a importação do atum do Rio Grande do Norte. Na soma dos valores exportados desse pescado, de 2019 a 2024, o país respondeu por 99,23%. Ou seja, em cinco anos, compraram US$ 69,056 milhões em atum, do total de US$ 69,593 milhões vendidos pelo setor atuneiro do RN. O restante do valor foi referente à exportação para a Guiana, cerca de US$ 537,6 mil. Esse país importou atum no período de 2019 a 2021. Desde então, predominam os envios para os EUA.
Os dados, elaborados pelo Observatório Mais RN, mostram ainda que em 2023, as empresas norte-americanas importaram mais de US$ 16,7 milhões, e, no primeiro semestre deste ano, US$ 4,615 milhões. “Nos Estados Unidos, enviamos para a Califórnia, Nova York, Boston, e outros estados”, cita o presidente do Sindipesca, Gabriel Calzavara.
Ele explica que o RN chegou a exportar peixe para o Japão, mas a logística não era favorável e as empresas terminaram por cessar os envios. “O modal aéreo não viabiliza mandar atum para o Japão porque os voos fazem muitas conexões. Mas já mandamos quando tinha um voo para Tóquio que passava em São Francisco. Teve um voo cargueiro que ia para a Alemanha e de lá para Tóquio, e a gente aproveitava e mandava. Mas, hoje, a logística é complicada”, justifica.
O secretário estadual de Agricultura, da Pecuária da Pesca, Guilherme Saldanha, explica que o Japão é um grande mercado, semelhante ao dos EUA, mas a logística termina por ficar cara pelo fato de o Estado não ter voo direto. “É muito tempo para chegar um produto fresco no Japão. E o mercado americano é muito dinâmico, que paga um preço muito alto. Então, é o principal destino das nossas exportações de atum”, afirma Guilherme Saldanha.
Valor exportado teve queda de 142,4% este ano
Apesar da exportação total do RN ter crescido em termos monetários, a exportação do atum seguiu um fluxo contrário e teve uma redução de 142,47% nos valores exportados. Uma queda superior a US$ 6,599 milhões, no primeiro semestre de 2024 ante igual período de 2023, segundo dados divulgados pelo gerente do Observatório da Indústria Mais RN, da Fiern, Pedro Albuquerque.
No primeiro semestre deste ano, o RN exportou mais de US$ 561,70 milhões em mercadorias, sendo US$ 4,615 milhões de atum, o que representa 0,82% da pauta exportadora do Estado.
Para efeito de comparação, no mesmo período do ano passado, o Estado totalizou US$ 368,48 milhões em produtos exportados, com 3,04% de participação do atum, algo em torno de US$ 11,215 milhões.
O diretor da Norte Pesca, Rodrigo Hazim, explica a queda nas exportações. “Teve aquele momento da proibição [da pesca do atum, pelo fato de o Brasil exceder a cota), era um peixe que entraria no início de janeiro. Então quer dizer, no mês de janeiro a gente zerou a estatística. Mas o que está acontecendo é que o mercado americano está meio recessivo e, então, o consumo de restaurante caiu. Está muito restritivo. O preço está muito baixo e está compensando mais mandar para os mercados brasileiros, São Paulo principalmente, onde, depois do Japão, tem mais japonês no mundo. Então tem um mercado oriental muito forte, muito dinâmico também”, explica Rodrigo Hazim.
O mercado paulista, segundo ele, está pagando um preço similar ao da exportação. “Já tinha alguns restaurantes que pagavam o preço do melhor momento do mercado americano para ter produto bom. Mas está havendo uma ampliação da destinação para São Paulo. São Paulo está pagando cada vez melhor. Quando eu falo São Paulo é o principal destino, mas tem também Rio de Janeiro, Santa Catarina”, diz. Para o exterior, completa, tem ido menos da metade do que no ano passado. “Então, esse ano a gente vai ver uma queda significativa das exportações”, prevê.
Segundo dados do Mais RN, os anos com maior registro de exportação de atum nos últimos cinco anos (2019/2024) foram 2023 e 2022, com 1,7 mil toneladas e 1,8 mil toneladas, respectivamente. Nestes dois anos, o RN atingiu o maior patamar de exportação em dólares no período, com US$ 16,7 e 17,4 milhões de dólares, respectivamente.
No primeiro semestre deste ano, 16 estados exportaram atum, sendo sete do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), três do Norte (Amapá, Amazonas e Pará), três do Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e os três da região Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina).