Dois ícones da canção brasileira estão de volta à estrada e juntaram, literalmente, as violas. O show “Violivoz” é um projeto conjunto entre Geraldo Azevedo e Chico César que só agora pôde entrar em turnê. Após a estréia em Recife, o segundo ponto da jornada sonora será Natal, com duas apresentações sábado e domingo (30 e 31), no Teatro Riachuelo. Os dois ‘cantautores’ vão revisitar suas respectivas obras e promover um mergulho coletivo numa coleção de canções populares e marcantes.
O repertório do espetáculo, baseado só em voz e violão, vai passear por sucessos autorais, clássicos da dupla, e algumas surpresas. “Temos pensado em canções onde a gente possa brincar com o instrumento”, declarou Chico César, lembrando músicas como “Bicho de 7 Cabeças” ou “Meu Pião”. Canções que vão sendo testadas para o repertório, como “Deus me proteja”, “Mama África”, “Dia Branco”, “À Primeira Vista”, “Menina do Lido”, “Moça bonita”, entre outras.
É o violão, a musicalidade, que os aproxima? “Eu acho que é o charme das canções”, respondeu Geraldo, aludindo a outra música do repertório. “A arte de compor, de trabalhar, de dar polimento à música até ver que ela ficou pronta… Acho que cada um de nós vê isso no trabalho do outro e se identifica”, completou. Tudo pode ter começado numa noitada de violão a dois, na casa de Chico, em São Paulo, quando ele e Geraldo pensaram: “A gente bem que podia fazer isso para o público. Para os nossos públicos.”
O caldo cultural em que ambos cresceram, apesar da diferença de idade, também conta. Começa pelo ouvido afinado com a música de rua “sertaneja” – Geraldo na pernambucana Petrolina, Chico na paraibana Catolé do Rocha. Um regionalismo (passando necessariamente por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro) que não precisa ser exibido, ambos já trazem entranhado na composição e no canto.
Amigos e fãs
Geraldo conheceu o trabalho de Chico César através de Carlos Bezerra, o “Totonho”, paraibano famoso pelo trabalho musical “Totonho e os Cabras”.
Totonho era, tal como Chico César, uma “cria” do grupo de música de vanguarda paraibano Jaguaribe Carne, liderado em João Pessoa por Pedro Osmar e Paulo Ró. Os dois, Chico e Geraldo, tinham canções num projeto que não chegou a ser gravado, mas Geraldo, ao escutar as músicas de Chico, pediu que ele viesse gravar o violão.
“Quando algum tempo depois foi lançado Aos Vivos”, diz Geraldo, “pra mim foi uma revelação. Além das composições em si, o violão de Chico César buscava outros caminhos, com um estilo muito pessoal, que só ele seria capaz. Virei divulgador (risos)… Comprei duas caixas de CDs e saí distribuindo para as pessoas, dizendo para elas: Dá uma escutada nisso aqui, e depois me fala.”
A admiração tornou-se recíproca neste momento. Chico César, cerca de vinte anos mais novo, já acompanhava o trabalho de Geraldo – uma das figuras de maior presença na geração de nordestinos que se projetou na Música Popular Brasileira durante a década de 1970. O fato é que nem a geração de Geraldo nem a de Chico passou incólume pelo baião, pelo coco, pela Bossa Nova, pela Tropicália, a Jovem Guarda, o rock internacional, os ritmos latinos e caribenhos.
Geraldo agregou-se a Elomar, Xangai e Vital Farias no projeto “Cantoria” (1984, 1988), da gravadora Kuarup. Depois, juntou-se aos companheiros de geração Elba Ramalho, Alceu Valença e Zé Ramalho para outro projeto bem sucedido, “O Grande Encontro” (1996). Espírito de partilha, de mutirão, de parceria. Chico César já dividiu palco e projetos em comum com estrangeiros como Ray Lema, Pedro Guerra, Pedro Aznar, Né Ladeiras, para não falar nos brasileiros de sua geração: Paulinho Moska, Zeca Baleiro e tantos outros.
A admiração e o respeito que Geraldo Azevedo e Chico César têm um pelo outro tornam-se evidentes quando eles se encontram para tocar e falar de música. Os ensaios para a nova turnê têm sido de pura diversão e cumplicidade – o que, com certeza, vai se refletir no palco.
Serviço:
Show “Violivoz”, de Geraldo Azevedo e Chico César. Sábado e domingo (30/31) no Teatro Riachuelo. Preços entre 80 e 180 reais. Para acessar o teatro, é obrigatório apresentar a comprovação de vacina.
FONTE: TRIBUNA DO NORTE