O cruzamento entre as avenidas Salgado Filho e Almirante Alexandrino de Alencar, um dos mais movimentados de Natal, será interditado por cerca de nove meses a partir do fim de junho deste ano. O motivo é a construção de uma trincheira na Alexandrino. O túnel passará “por dentro” do cruzamento entre as duas avenidas. Portanto, o motorista que vem pela Alexandrino passará por baixo da Salgado Filho para seguir pela via, sem semáforos. A ideia é destravar o cruzamento, principalmente para quem vem da Hermes da Fonseca no sentido Arena das Dunas e vice-versa. O semáforo atual, de três tempos, será substituído por um semáforo de pedestres. A intervenção deve afetar aproximadamente 65 mil motoristas que passam pelo local todos os dias.
O projeto é orçado em R$ 25 milhões oriundos do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR), com uma contrapartida de R$ 88 mil da Prefeitura de Natal. O plano está em fase de finalização do edital de licitação, que deverá ser lançado em maio próximo, de acordo com a STTU. A partir da escolha da construtora, a intervenção deve começar entre o fim de junho e o começo de julho, conforme cronograma da Prefeitura. A previsão inicial é de que a obra seja finalizada em nove meses, isto é, em março de 2023.
“Esse é um projeto antigo, que existe desde 2011 e o prefeito solicitou que a gente retrabalhasse o projeto nessa nova visão de urbanismo, de cidade para as pessoas. Nossa projeção, dependendo do projeto construtivo pode ser de nove meses, a gente vai tentar trabalhar isso para manter esse prazo, mas só vai definir mesmo quando a construtora tiver acesso aos projetos. É ela quem pode definir melhor esse tempo necessário, mas a gente entende que pela complexidade do local, do projeto, a gente consegue fazer dentro do período”, destaca Walter Pedro.
Ao longo de todo o processo, o tráfego na área será completamente modificado. A ideia é que apenas uma das faixas permaneça livre no trecho (tanto na Salgado Filho quanto na Alexandrino de Alencar) e que aos fins de semana e em dias específicos, a região seja totalmente fechada, a exemplo do que aconteceu durante as obras da Copa do Mundo 2014 no entorno da Arena das Dunas. A Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal incentivará o trânsito por vias alternativas e fará desvios para quem precisa passar pelo local.
A prefeitura planeja duas rotas de desvio principais. Para quem vem da Salgado Filho no sentido Petrópolis, a saída será pegar a Avenida Nevaldo Rocha (antiga Bernardo Vieira) à direita, na altura do Midway Mall, seguir pela Avenida Rui Barbosa e ir em direção às ruas que ficam por trás do quartel do Exército, até finalmente seguir caminho pela Avenida Hermes da Fonseca. Atualmente, as ruas que ficam na parte de trás do quartel estão fechadas porque os militares vivem na região. A STTU deve se reunir com o Exército para pedir a liberação das vias, que servirão para dar vazão ao tráfego.
No sentido contrário, para quem vem de Petrópolis em direção ao Midway Mall, por exemplo, o desvio será feito pela Rua Alberto Maranhão. Da via, os motoristas poderão acessar avenidas paralelas à Hermes da Fonseca, como Romualdo Galvão ou Prudente de Morais. “A gente vai começar a conversar com quem vai ser diretamente afetado. Ali na parte do quartel, lojas e serviços. Vamos apresentar essas projeções de desvios”, comenta o secretário adjunto.
O profissional diz ainda que o órgão fará campanhas com os motoristas para incentivar a redistribuição do fluxo. “Isso não vai ser 100% da Salgado Filho com destino Petrópolis porque a gente vai fazer campanhas para dividir o tráfego pela Nevaldo Rocha para fazer esse seguimento de via. Do contrário, o motorista vai entrar ali na Alberto Maranhão e vai poder escolher Prudente de Morais, Romualdo Galvão, cruzar e ir para o seu destino. Aí ele vai escolher entrar na Nevaldo Rocha, Antônio Basílio, Amintas Barros e assim sucessivamente para voltar para o fluxo”, detalha Walter Pedro.
Mudanças vão absorver fluxo dos próximos 10 anos
De acordo com a STTU, a perspectiva é de que a obra consiga absorver todo o fluxo de veículos pelos próximos dez anos. Até lá, a projeção é de que o tráfego de veículos no trecho passe dos atuais 65 mil/dia para 95 mil/dia, segundo a pasta.
O adjunto da STTU, Walter Pedro, explica que a escolha se deu pela grande movimentação de carros e pedestres no cruzamento. Além disso, o arquiteto e urbanista diz que o ponto é uma espécie de entroncamento semafórico. A Secretaria de Mobilidade Urbana pontua que será feito um reordenamento nos semáforos da região para aliviar o fluxo de veículos no entorno do cruzamento. “É como se fosse o divisor de redes abaixo, da Salgado Filho sentido Arena das Dunas, e acima, da Hermes da Fonseca vindo para Tirol, Petrópolis”, detalha Walter.
“Além de ser confluência de vários fluxos, demandas vindo das zonas Leste e Sul, precisa-se de muito tempo para dar vazão a quem vem na Hermes da Fonseca e Salgado Filho e quem vem da Alexandrino, o que compromete o circuito de informação de rede para os dois seguimentos de corredores. Por isso cria esse travamento constante. Com a obra, o ‘mergulho’ dos carros vai ser na Alexandrino de Alencar e quando a gente libera a Alexandrino, nós conseguimos redistribuir parte desse fluxo que vem pela Hermes”, acrescenta.
Obra preocupa comerciantes da região
Os empresários que mantêm lojas na região se preocupam com a perspectiva de baixa nas vendas durante o período de interdição. O barbeiro Antônio Gomes, que trabalha no mesmo ponto há 40 anos, diz que com a drástica redução de movimento pela via, a tendência é de queda no faturamento. “A gente se preocupa demais e é uma coisa que ninguém veio nos falar. A gente fica sabendo assim por alto, mas o poder público também precisa olhar para os comerciantes”, avalia.
Também na área há quatro décadas, o vendedor de frutas Zeca Santos teme perder o emprego. Isso porque a quitanda, na qual trabalha há quarenta anos, fundada pela tia nos anos 1970, pode ser retirada do canteiro central da Alexandrino de Alencar. A estrutura está instalada justamente na região onde a trincheira será construída. A prefeitura informou que fará uma intervenção com comerciantes do ponto para encontrar uma saída. Por enquanto, ainda não há definição.
“Fiquei sabendo, mas para a gente não chegou nada. Isso aqui existe há muito tempo. Nós não somos contra qualquer obra que venha para melhorar a vida do povo, mas é uma coisa que precisa ser conversada”, desabafa o vendedor.
Na segunda-feira (25), a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio) reuniu empresários em um encontro com a cúpula da STTU para discutir os impactos da obra. Na reunião, o medo de prejuízos foi abordado pelo diretor da Fecomércio e presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação, Imobiliárias, Incorporadoras, Loteadoras, Colonizadoras, Urbanizadoras e Administração de Imóveis do RN (Secovi RN), Renato Gomes. “Precisamos da garantia que a obra não irá interromper o nosso dia a dia de trabalho e que haverá um cronograma de execução da obra, para informamos aos nossos clientes, adaptar nossa rotina e pensar alternativas”, disse.
“O assunto foi tratado em reunião do Conselho de Transporte e Mobilidade Urbana e nos chamou atenção. Na condição de representante do segmento empresarial, convocamos empresários, representantes de entidades para entender como se dará a obra, os eventuais impactos da obra”, complementou o presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz.
FONTE: TRIBUNA DO NORTE